A pandemia da COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus, continua assolando a população mundial e, quase 2 anos depois, com toda urgência e necessidade que esta situação requer, ainda se observa uma dedicação e comprometimento imensuráveis da comunidade científica em busca de soluções para o controle desta dramática situação. Porém, um “ruído” gerado nas redes sociais, além de prejudicar o combate à pandemia, paira sobre aqueles que se dedicam a restaurar e promover saúde, os médicos.
Para “ser um médico”, documentos como diploma de conclusão de curso e registro profissional são necessários. Para isso, são 6 anos na faculdade e mais 2 a 6 anos para se tornar um especialista. Não me lembro de outra profissão com formação tão longa assim! Inúmeros livros, tais como anatomia, fisiologia, farmacologia, semiologia e tratado de medicina interna, causam um misto de sentimentos no aluno: ansiedade e esperança. Além disso, aulas em período integral, trabalhos, pesquisas, provas, cansaço, incertezas, noites sem dormir e sem feriados, tornam o estudante de medicina diferenciado, um indivíduo abnegado com a missão de se tornar oficialmente um médico, ou seja, de cuidar responsavelmente da vida humana. Mas o direito de exercer esta nobre profissão e a autoridade concebida, como vimos, são amplamente estabelecidos através de documentos, porém se tornar um profissional de qualidade exigirá, além de uma educação continuada, baseada em evidências científicas, certas peculiaridades atribuídas ao saber médico. Infelizmente, o título de médico não concede, automaticamente, a capacidade de exercer a profissão com distinção e altruísmo, permitindo o surgimento da figura do “médico leigo” que, de maneira ímpar na era digital, contribui para amplificação do ruído nas redes sociais.
Com a evolução dos recursos tecnológicos é inquestionável o papel da internet como instrumento de divulgação de produtos, serviços, entretenimento e “informação”. Contudo, sua importância social e econômica vai depender do efeito e da repercussão que causará nas pessoas. Atualmente, muitos médicos utilizam as mídias sociais com a finalidade de buscar conhecimento, propagar inverdades e se autopromover, ações estas que não fazem parte da saga da faculdade de medicina. Sendo assim, as redes sociais tornam-se uma fonte altamente eficaz de desinformação e induzem o “médico leigo” e a população a se comportarem de maneira inadequada perante a prevenção e tratamento da COVID-19. Para sua formação, um estudante precisa acumular conhecimento teórico e desenvolver habilidades para lidar com saúde e doença, consequentemente, percorrer o árduo caminho marcado por infinitos livros e artigos científicos que, associados a toda documentação necessária o habilitam a “ser um médico”. No entanto, o conhecimento médico adquirido nas redes sociais, distante das salas de aulas, dos ambulatórios, das enfermarias, dos pacientes e do Código de Ética Médica, jamais será suficiente para a formação e atualização profissional ou capacitará um leigo a discutir medicina e/ou políticas de saúde pública, principalmente quando se trata de uma pandemia.
Logo, a Medicina é uma ciência em constante evolução e ninguém – leigos ou médicos – deve interferir destruindo as condições necessárias para o seu desenvolvimento. Ser “oficialmente um médico” e adepto da “desinformação” virtual pode até gerar “ruído”, porém tornar-se um médico, exige um tato particular e um senso excepcional de responsabilidade com a vida humana que transcende o conhecimento das redes sociais.
Artigo de opinião:
Dr. Alcirley de Almeida CRM-PR 21.511
Cardiologista da Pró Cardio Cascavel
Especialista em Arritmia Clínica
Prof. Faculdade de Medicina da Unioeste
Coordenador da Residência de Cardiologia do HUOP